segunda-feira, 17 de novembro de 2014

EVANGELII GAUDIUM  -  A ALEGRIA DO EVANGELHO
 SEGUNDA PARTE


A primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco fala da Alegria do Evangelho de Cristo; alegria que se renova e comunica, conforta e suaviza a vida, e que deve ser anunciada mesmo em meio às crises dos tempos atuais.

                Continuando a ler a EVANGELII GAUDIUM, chegamos ao segundo capítulo desta exortação, onde o Papa Francisco nos fala das “crises do compromisso comunitário”. Neste capítulo, “antes de falar de algumas questões fundamentais à ação evangelizadora” – EG 2 - I, 50, o Santo Padre nos convida a um olhar com discernimento evangélico para o contexto social e religioso em que vivemos.  


                Somos convidados, por exemplo, a testemunhar o amor e a misericórdia de Deus em meio a uma grande quantidade de desafios no mundo atual, como a ditadura de uma economia excludente e geradora de desigualdade social, onde é “mais notória a queda da Bolsa de Valores do que a morte por enregelamento de um idoso” – EG 2 - I, 53; ou ainda a nova idolatria do dinheiro, cujo domínio é aceito pacificamente por nós e nossas sociedades, quando a dívida e os respectivos juros “afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia” – EG 2 - I, 56. O dinheiro que deveria estar a serviço, é o que governa, colocando Deus como rival de todo um processo de manipulação e degradação do ser humano, criatura amada e a quem Deus planejou a plena realização e independência. 

               O domínio financeiro faz esquecer os grandes ensinamentos que fazem parte da Tradição Católica, como o de São João Crisóstomo que dizia que “não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos” – EG 2 - I, 58.

                A desigualdade social gerada pela ditadura econômica é a causa do crescimento da violência a patamares inacessíveis, tornando-se portanto incontrolável. A segregação social dos grandes centros destrói a tranquilidade, devido à reação violenta daqueles que são marginalizados.

                O Santo Padre destaca ainda a necessidade de evangelizarmos em meio aos desafios culturais, que em certas partes do mundo ainda se apresentam como “verdadeiros ataques à liberdade religiosa ou em novas situações de perseguição aos cristãos” – EG 2 - I, 61. Este tipo de manifestação prejudica toda a vida social, além da religiosa, pois desorienta os cidadãos a engajarem-se em ações em prol do bem comum.

                Mesmo a fé católica enfrenta a realidade da proliferação de novos movimentos religiosos. Estes dividem-se de acordo com suas propostas: uns tendem ao fundamentalismo e outros a uma espiritualidade sem Deus. De um ou de outro modo, reage-se contra o mundo materialista, consumista e individualista, porém sem preencher o vazio deixado pelo racionalismo secularista.

                Entretanto o Papa também alerta para um grande perigo existente dentro da Igreja Católica, que é a “existência de estruturas com caráter pouco acolhedor, em algumas de  nossas paróquias, ou à atitude burocrática com que se dá a resposta aos problemas, simples ou complexos, da vida dos nossos povos. Em muitas partes, predomina o aspecto administrativo sobre o pastoral, bem como uma sacramentalização sem outras formas de evangelização”. – EG 2 - I, 63.

                Um outro desafio que os cristãos são convidados pelo Papa  a enfrentar, é o da inculturação da fé. Não podemos cair na armadilha da transculturalidade, que é adaptar o evangelho e a tradição da Igreja às realidades  existentes. Não é o evangelho que precisa ser inculturado, mas as culturas que devem ser evangelizadas, para fortalecer as riquezas que essas culturas já possuem.


                E por último o Papa atenta sobre os desafios das culturas urbanas, convidando-nos a não aceitarmos a ditadura das novas linguagens que vão surgindo dentro de cada sociedade, mas a protagonizarmos uma “evangelização que ilumine os novos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o ambiente, e que suscite valores fundamentais”. EG 2 – I, 74.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

EVANGELII GAUDIUM  -  A ALEGRIA DO EVANGELHO


 “A alegria do evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”.

                Com estas palavras o Papa Francisco inicia sua primeira Exortação Apostólica, intitulada Evangelii Gaudium, em latim, A Alegria do Evangelho. No documento, dividido em cinco capítulos, o Papa discorre sobre a Transformação Missionária da Igreja, a Crise no Compromisso Comunitário, o Anúncio do Evangelho, a Dimensão Social da Evangelização e dos Evangelizadores com Espírito.

                No primeiro capítulo o Papa nos convida a sermos uma “Igreja em saída”, e destaca que a alegria do evangelho é uma alegria missionária. O Evangelho, enquanto Palavra de Deus, tem vida própria e não pode ficar confinado, mas deve ser espalhado, semeado. E “a Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando nossa previsões e quebrando nossos esquemas” – EG I, 22. Nesse sentido, a comunidade missionária deve perder completamente o medo e se despir definitivamente de seus preconceitos e “ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos” – EG I, 24.

                Entretanto, conforme o própria Papa exorta, para que esta saída aconteça, faz-se necessário uma urgente conversão pastoral, uma inadiável renovação eclesial. Igreja em saída significa também, para o Papa, sair das comodidades pastorais em que estamos mergulhados, ter como ponto de partida o coração do Evangelho, que mostra o Cristo peregrino, o Cristo misericordioso. Da mesma forma também nós somos convidados à prática desta, que é a maior de todas as virtudes – a misericórdia.

                Mas o Papa também entende o quanto as limitações que a natureza humana nos impõe podem comprometer esta saída missionária. Por isso ele discorre longamente sobre isso, mostrando que a missão se encarna na limitação humana, mas é realizada com pequenos passos em meio a tudo isso. Como missionários do amor de Deus, precisamos aprender que esse amor “opera misteriosamente em cada pessoa, para além dos seus defeitos e das suas quedas” – EG I, 44.

                Encerrando o primeiro capítulo, o Papa nos lembra que a Igreja “em saída” é como uma mãe de coração aberto. “Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, deixar de lado a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldades”. – EG I, 46.

                Nesse sentido, por razão nenhuma e em qualquer circunstância, a Igreja deve fechar qualquer fresta que possa permitir a entrada primeira ou o retorno de um irmão. E no rol de portas destaca-se o Batismo, a Eucaristia e a Penitência. O primeiro, porque é a porta para todos os outros sacramentos; o segundo – a Eucaristia – porque, segundo Santo Ambrósio de Milão, não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso para os fracos; o terceiro – Penitência – porque é o sacramento da misericórdia de Deus, que não tem memória para os nossos pecados, e nos resgata pelo sangue de Seu Filho.

                Ler a Evangelii Gaudium é conhecer um pouco do pensamento do Papa Francisco, que norteia seu pontificado no amor misericordioso de Jesus e na essência missionária da Igreja.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

SETEMBRO - MÊS DA BÍBLIA

Entrevista concedida por nosso bispo, Dom João Francisco Salm, ao programa "Anunciando a Boa Nova", da RWCTV, falando sobre o mês de setembro, que é o segundo mês temático do ano, dedicado à Sagrada Escritura. Nesta entrevista, Dom João nos ensina os passos para a leitura orante da Bíblia (Lectio Divina)


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

FALANDO SOBRE A PASTORAL CATEQUÉTICA

          Na época em que eu atuava como ministro da catequese (catequista), não era raro ouvir nos encontros de formação ou reuniões, o recado de que “devíamos nos abastecer com os documentos da Igreja sobre a catequese”. Dois desses documentos eram os mais propostos: O Catequese Renovada e o Diretório Nacional da Catequese, ambos da CNBB.

          Como ler para mim nunca custou nada, me muni desses dois textos e fui lê-los. E o que constatei é fantástico, embora preocupante.

          Mas antes de discorrer sobre minha constatação, gostaria de citar alguns trechos desses documentos, e de um outro que me chegou às mãos no mesmo período, nos quais encontro fundamentação para o que vou escrever.

“Esta sociedade, marcada também pelos ateísmos práticos e teórico-militantes, por diversos tipos de neopaganismo, pelas formas fanáticas e sectárias de religiosidade de origem recente e pelo indiferentismo religioso, precisará também de um tipo de catequese que, além de uma sólida fundamentação da fé, seja capaz de ajudar o cristão a converter-se e a comprometer-se no seio de uma comunidade cristã para a transformação do mundo” (Catequese Renovada, 19)

“[...] todo roteiro catequético deverá incluir estímulos e orientações com vista a uma leitura da Bíblia, segundo um plano adequado à idade e às condições culturais do leitor. O plano deve favorecer uma leitura interessante, viva, com acesso direto aos textos, ajudando a compreensão da mensagem, assim como o Magistério da Igreja a interpreta” (Catequese Renovada, 40)

“Pode-se falar também de adaptação do conteúdo. [...]Adaptação significa levar em conta as condições históricas e culturais dos catequizandos. A integridade do conteúdo pode e deve ser comunicada numa linguagem adequada aos homens de hoje: pois uma coisa é o depósito e as verdade da fé, outra é a maneira com que são enunciadas, embora o significado e o sentido profundos permaneçam os mesmos. [...] As situações históricas e as aspirações autenticamente humanas são parte indispensável do conteúdo da catequese.” (Catequese Renovada, 101-4º)

“O conteúdo da catequese compreende dois elementos que interagem: a experiência da vida e a formulação da fé. A afirmação do princípio de interação é a recusa tanto do excesso da teoria desligada da realidade, quanto do dualismo que desvaloriza as necessidades do aqui e agora, da vida terrena dos filhos de Deus”. (Diretório Nacional da Catequese, 13 – i)

“[...]garantir material didático moderno (internet) na formação das crianças e jovens, abrindo espaços interativos entre catequistas e catequizandos, através de fóruns de discussão, busca de informações, divulgação de notícias da catequese e da igreja, etc.; proporcionar encontros de catequese em ambientes adequados e com utilização de equipamentos atualizados e, às vezes, em ambientes abertos; terminar os encontros com atos celebrativos e com metas para o agir cristão, que ampliem o conteúdo estudado; criar momentos de integração entre pais, catequizandos e catequistas[...]” (Plano Diocesano de Pastoral (2011-2020) Diocese de Tubarão, 110)

        Contrapondo os textos expostos acima à nossa práxis catequética, resta claro e inequívoco a urgente necessidade de uma total reestruturação nesta que deve ser a maior de todas as preocupações na caminhada pastoral da igreja.

         É na catequese que, nos dias atuais, o indivíduo tem o primeiro contato com a igreja e com Jesus Cristo. E esta primeira impressão deve causar o impacto necessário para que durante toda a sua vida este indivíduo não cesse de buscar caminhar com Jesus, através da Sua igreja.

     Entretanto, é gritante o número de crianças e adolescentes em nossas comunidades desprovidos de conhecimento bíblico e religioso. Mesmo os que frequentam a catequese demonstram uma grande tibieza (e às vezes até aversão) quando o assunto é religião e igreja.

        Não raro são os que, num determinado instante da vida e na busca por algum conhecimento e respostas, enveredam por caminhos protestantes e espíritas, tornando-se ainda ferozes agressores ao catolicismo.

      Algumas pessoas, em resposta a argumentos como o acima, defendem o discurso do “mais qualidade e menos quantidade”. Com base no que nos transmite a história eclesiástica, eu entendo que não era bem essa a intenção dos apóstolos e primeiros evangelizadores, já que não se limitaram em apenas qualificar o pequeno grupo judeu-cristão, mas lançaram-se a todos os lugares aumentando a quantidade daqueles que podiam ser (e eram) qualificados. Não copiarei citações da Evangelii Gaudium, mas quero mencioná-la para lembrar o quanto o Santo Padre, o Papa Francisco, insiste nesta obra, de atrair pessoas para Cristo.

         - Mas, Anselmo, os tempos hoje são outros!

         E talvez esta seja a maior de todas as justificativas para que renovemos nosso jeito de fazer catequese. Estamos vivendo um tempo de mudanças e ao mesmo tempo uma mudança de época. Se não formos competentes e intrépidos no ensino e na prática cristã hoje, em pouco tempo estaremos nos contentando com um pequeno grupo de pseudo qualificados em nossas paróquias.

         - Talvez nossos catequistas devessem fazer um trabalho melhor, Anselmo.

         Não coloquemos um fardo tão pesado sobre os ombros desses homens e mulheres que voluntária e caridosamente se dedicam a fazer mais do que sabem para educar nossas crianças e adolescentes na fé. Não gosto de utilizar o termo “culpa”, mas “responsabilidade”. E, como pai e catequista, atribuo a responsabilidade não aos ministros da catequese que estão “em sala”, mas às pessoas que lideram a pastoral catequética nas paróquias, comarcas e diocese; muitos destes deveriam ainda estar vivendo a prática da catequese junto às crianças e adolescentes, para assim poderem constantemente reavaliar os métodos e materiais didáticos utilizados. É só através do contato e da vivência da realidade do catequizando, que pode-se fazer a necessária e eficaz adaptação de conteúdo de que fala o documento Catequese Renovada no Art. 101, 4º.

         - Você tem a solução, então?

         Não, não tenho A solução. Até porque num trabalho tão abrangente como é a catequese, a solução não deve partir nunca de uma única pessoa ou um pequeno grupo. Há que se ter uma macro visão, ouvir todas as partes envolvidas (catequistas em sala, pais, catequizandos, outras lideranças).

         Não, eu não tenho A solução. Mas posso elencar alguns procedimentos que deveriam ser revistos.

         1º – Idade de Ingresso na Catequese
        
Durante muito tempo a idade mínima para que a criança pudesse ingressar na catequese em nossa diocese era a de nove anos completos.

Importante destacar aqui a radical cobrança dos coordenadores sobre este “detalhe”: a criança deveria ter completado nove anos até o dia 31 de dezembro do ano anterior, ou seja, se a criança tivesse completado nove anos no dia 5 de janeiro de 2014, e mesmo que a catequese só fosse iniciar dali a dois meses (como ainda ocorre), a criança deveria esperar até o próximo ano (2015) para ingressar.

Segundo informações que recebi há alguns anos, houve uma sugestão para mudança dessa idade de nove para sete anos, entretanto devido a uma grande resistência, optou-se pelo meio-termo, oito anos.

Essa resistência indica o quão desinformadas estão nossas lideranças no que se refere à psicopedagogia.

Jean Piaget, um teórico do desenvolvimento humano, dividiu em quatro os períodos desse desenvolvimento. Segundo ele, cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. O segundo e o terceiro períodos correspondem à infância (2 a 6 anos – primeira infância, e 6 a 12 anos – infância propriamente dita).

“É no terceiro período (6 a 12 anos) que tem início a construção lógica, isto é, a capacidade da criança de estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de vista diferentes. [...]É neste período que a criança se torna capaz de cooperar com os outros, trabalhar em equipe, [...]ocorre o aparecimento da vontade como qualidade superior [...]os novos sentimentos morais são o respeito mútuo, a honestidade, o companheirismo e a justiça.” (FURTADO & BOCK – Psicologias Uma Introdução ao Estudo da Psicologia – 13º Ed – 1999 – p.103)

O início deste período, não coincidentemente, corresponde ao início do período escolar. É quando o universo da criança se expande do pequeno núcleo familiar para a grande comunidade chamada escola, onde a criança se depara com uma diversidade de pensamentos e comportamentos, além de começar a desenvolver suas aptidões intelectuais.

Não deveria também a igreja apropriar-se disso e proporcionar à criança já nesta idade de seis anos o início da sua formação cristã? Penso em quanto ganharíamos por não esperarmos que a criança, somente após dois ou três anos de experiência extra-familiar, fosse iniciada na caminhada de formação cristã. Até porque no atual contexto em que estamos inseridos, muito rapidamente as crianças estão se apropriando de conhecimentos que antes só iriam ter acesso após a adolescência, principalmente no que diz repeito às inovações tecnológicas, drogas e sexualidade.  

Houve uma época em que realmente a criança podia esperar até os nove anos para ir à catequese, porque ela já vivia uma experiência cristã na família, com as devoções dos pais e avós e a participação às celebrações. Mas hoje isso mudou; a prática religiosa dentro de muitas famílias é quase zero.
                                                                                                            
Hoje é preciso começar mais cedo, até porque, começando cedo torna-se possível desacelerar o ritmo, ampliar o conteúdo, organizá-lo de forma gradativa e repetir/reforçar o que for necessário, além de contribuir para um melhor aproveitamento da relação catequista / catequizando / família.

         2º - Paralelismo catequese / escola

Em 1989 o sociólogo francês Pierre Babin profetizava sobre a transformação da “escola-loja” (profesor de frente para os alunos) em “escola-mesa” (professores e alunos no mesmo plano, círculos). Passados 24 anos percebemos que na escola isso ainda não mudou.

E infelizmente a catequese continua imitando o sistema educacional ultrapassado também nesse aspecto. Não são raros os espaços de catequese montados de maneira idêntica a uma sala de aula: carteiras de frente a um quadro negro (ou branco) e uma mesa para o catequista (professor). Até o material didático é semelhante: livro (catecismo), caderno, lápis e borracha. A reprovação por frequência insuficiente também é uma cobrança feita aos catequistas.

O método de trabalho “em sala” em muitos casos ainda é bem parecido com o que ocorre na sala de aula: leitura do assunto no livro, exercícios no caderno e tarefa para casa.

As férias escolares também são imitadas na catequese, o que impede o acesso das crianças a uma catequese mais vivenciada sobre o natal.

Esse paralelismo contribui para que a criança veja na catequese uma extensão da escola, com todas as suas obrigações e imposições. O sabor da novidade que é o evangelho se perde devido à insípida forma de evangelização que é a catequese em muitas comunidades.

A única maneira de alterar esse status é mudar radicalmente os métodos de comunicação dentro da catequese, em todos os aspectos: horários, tempo de duração, formato das salas, ambiente, recursos (humanos e técnicos) e participação do catequista não mais como professor, mas como colaborador.

         3º - Comunicação na Catequese

         “Não basta usar os meios de comunicação para anunciar a mensagem cristã, é necessário integrar a mensagem nessa nova cultura, criada pelas modernas comunicações”. (Redemptoris Missio, 37)

Podemos dizer que dos 100% que compõe o nosso poder de comunicação, 80% vem do conhecimento do conteúdo; é o conhecimento técnico. Os 20% restantes são técnicas, mas sem estas a transmissão do conhecimento fica comprometida.

Antigamente os mestres (professores, padres, catequistas, etc.) mostravam e interpretavam a vida e a cultura e divulgavam isso cada um no seu campo de atuação. O início da comunicação em massa manteve um esquema conhecido como: UM PARA TODOS.*

Hoje qualquer um com simples ferramentas torna-se ponta do processo. Todos podem divulgar opiniões pessoais ou de grupos, promover mobilizações, levantar bandeiras, etc.. É o novo esquema, chamado TODOS PARA TODOS. Isso provocou mudanças culturais e criou uma nova cultura – a cultura midiática.*

Essa nova cultura produz o protagonismo, a valorização pessoal a visibilidade e exige criatividade.

E a igreja conhece tudo isso muito bem e até divulga nos seus documentos; um exemplo são as mensagens dos papas no Dia Internacional das Comunicações nos últimos anos. Todavia não as põe em prática na vida pastoral, principalmente litúrgica e catequética.

As crianças de hoje são da geração das mídias sociais e de relacionamento; e o que a catequese faz com essas ferramentas?

Sabemos que a família é a primeira catequese. É lá que a criança aprende os valores, a importância do diálogo e tem as primeiras noções sobre religiosidade. Entretanto grande parte das crianças que chegam à nossa catequese não vem de ambientes em que se viva essas práticas; alguns são órfãos de pai ou mãe, vivem com parentes, ou em ambientes de constante conflito onde Deus figura como alguém que não está nem aí para eles. Hoje, mais do que nunca, a catequese é responsável pelo primeiro anúncio e o primeiro contato, como já mencionei, da criança com a realidade religiosa.

Entretanto nossa maneira de comunicar isso não está atingindo seus objetivos.

Creio que já está na hora de a catequese se tornar um ambiente em que os catequizandos sejam agentes da própria formação, e o catequista funcione apenas como um facilitador deste processo. A igreja e os catequistas precisam dominar e facilitar o uso da linguagem das imagens (foto e vídeo), das mídias de relacionamento, da linguagem (gíria) das crianças e adolescentes.

Estatisticamente sabe-se o seguinte:
·         Uma pessoa retém 10% do que lê;
·         26% do que escuta;
·         30% do que vê;
·         70% do que vê e escuta;
·         70% do que discute com os outros;
·         80% do que aprende experimentando;
·         90% do que explica para os outros;
·         95% do que ensina para os outros;

Considerando isso, ao permitir que o catequizando se torne protagonista da sua própria evangelização, permitimos que ele absorva muito mais as verdades da fé e o ensinamento da igreja, do que realmente ele absorve apenas sentado ouvindo.

         Quanto ao catequista, não deve ter medo de arriscar. Deve ser ousado. E não esquecer que sua presença deve ser sempre oportuna e segura. Ele deve incentivar para que o conhecimento seja partilhado (eles não conhecem e vão pesquisar na internet, documentos, visitas, entrevistas, Bíblia) e depois partilham entre si das formas mais diversificadas possíveis (fotos, vídeos, encenações, músicas, posts em redes sociais, etc.). É também um meio de despertar na criança a consciência sobre o uso sadio da ferramenta internet.

*Parte do texto foi extraída do seminário “Comunicação e Catequese” apresentado no 1º MUTICOM do Regional Sul IV, em Joinville, em maio/2011.

         4º - Valorização dos Sacramentos

Não é equívoco equiparar os atos sacramentais de primeira eucaristia e crisma com as formaturas de ensino fundamental e médio. Nosso sistema não prepara para a vida, mas para o sacramento. A cada ano entregamos às comunidades mais um grupo de “sacramentados” com poucos “evangelizados”.

Nossas crianças não entram na catequese para serem evangelizadas, mas para fazerem a primeira eucaristia e a crisma. Um dos primeiros questionamentos dos pais ao “matricular” (até esse termo é o mesmo da escola) seu filho na catequese é: daqui a quanto tempo ele “faz” a primeira eucaristia? E depois da primeira eucaristia a grande preocupação é “fazer” logo a crisma.

O ideal seria não pôr esses dois sacramentos como meta final da catequese, mas sim como conquistas ao longo de um caminho que se inicie aos seis anos de idade, mas que não tenha obrigação de acabar.

A eucaristia, e toda a pompa que a cerca, se equipara à formatura do ensino fundamental; a crisma à do ensino médio. E a penitência é uma obrigação chata que aparece antes de uma e outra.

O modo como levamos nossas crianças a ter seu primeiro contato com o sacramento da penitência é que faz com que cada vez mais os jovens e adultos deixem de buscá-lo.

A catequese deve ser uma caminhada ininterrupta, onde o conteúdo é dosado de acordo com as faixas etárias e os sacramentos “oferecidos” nos momentos oportunos: a eucaristia por volta dos 12 anos, a crisma por volta dos 15. Quanto à penitência (confissão) não deve ser mais vinculada a esses dois momentos, mas tornar-se uma prática constante desde cedo, ou, conforme o Cânon 989 do CDC: “Todo fiel, depois de ter chegado à idade da discrição, é obrigado a confessar fielmente seus pecados graves, pelo menos uma vez por ano”.

Periodicamente, dependendo da disponibilidade dos padres da paróquia e do número de comunidades, o sacerdote poderia visitar os catequizandos e oferecer-lhes o sacramento da confissão. Essa prática, além de proporcionar um maior contato entre sacerdotes e catequizandos, vai fazer com que esses venham a entender e viver o verdadeiro sentido deste sacramento e a buscá-lo com mais frequência no futuro, pois, pela mesma prática, entenderão que não se trata apenas de um momento em que se conta pecados, mas de uma experiência de amizade e confiança entre padre e catecúmeno, que culminam na experiência da misericórdia de Deus.

Como disse, não tenho a solução, mas um grande passo para encontrá-la é reconhecer o que precisa ser corrigido ou eliminado, e fazer acontecer.


Autor: Anselmo José Ramos Neto

terça-feira, 22 de julho de 2014

MÊS DE JULHO – NA IGREJA CATÓLICA

                Para nós católicos o mês de julho é um mês muito importante no que diz respeito às comemorações das memórias dos santos. É o mês em que comemoramos a festa de Pedro e Paulo, as duas colunas da Igreja.


                Neste artigo vou tentar passar a vocês um pouco sobre nosso querido São Pedro, o chefe do grupo dos apóstolos, escolhido pelo próprio Cristo para, além de ser pescador de homens, ser também o guardião das chaves, ou seja, a autoridade para, em nome de Nosso Senhor, ligar ou desligar as coisas entre o céu e a terra.

                 Mas quem era Pedro?


                Seu nome era Simão, e antes de se tornar um dos doze apóstolos, era pescador. Acredita-se que nasceu em Betsaida e na época do seu chamado, morava em Cafarnaum. Seu pai chamava-se Jonas (ou João) – daí ser apresentado em algumas situações como Simão Barjonas (Simão filho de Jonas) – e tinha como irmão, André.

                Simão e André eram empresários da pesca e tinham sua própria frota de barcos, em sociedade com Zebedeu e seus filhos, Tiago e João (também do grupo dos apóstolos) – Lc 5, 1-11. São Clemente de Alexandria, no seu Stromatas, afirma que Simão era casado e tinha um filho.

                No relato encontrado em Lc 5, 1-11, conhecido como “pesca milagrosa”, Jesus convida Simão para segui-lo e tornar-se pescador de homens. Em Jo 1, 42, Jesus muda o nome de Simão para Kephas, que em aramaico quer dizer “pedra”. Daí ter passado a ser conhecido como “Pedro” ou “Simão Pedro”.

                Tanto a Igreja Católica Romana (esta da qual fazemos parte) quanto a Igreja Católica Ortodoxa (a Oriental) concordam que Simão Pedro, depois de ter sido bispo em Antioquia, foi para Roma onde tornou-se o primeiro bispo daquela cidade.

                Segundo a Tradição, depois que foi milagrosamente libertado da prisão em Jerusalém (At 12, 1-11) Pedro viajou à Roma. Era o tempo do reinado do imperador romano Cláudio. E quando este expulsou de Roma os judeus e cristãos (At 18, 1-2) Pedro voltou a Jerusalém. Nesta ocasião participou do famoso Concílio de Jerusalém (At 15, 2-7), onde foi discutido sobre os rituais judeus. Depois desta reunião Pedro permaneceu em Jerusalém, e Paulo foi para Antioquia, de onde partiria em sua segunda viagem missionária.

                Por volta do ano 50, Pedro viaja a Antioquia, onde ocorre a grande discussão entre ele e Paulo, relatada em Gl 2, 11-14, conhecido como o Incidente de Antioquia. Nesta viagem teria assumido o episcopado de Antioquia. Segundo Eusébio de Cesaréia, Pedro transferiu a autoridade da Igreja de Antioquia a Evódio, e daí partiu em viagem, chegando a Roma, onde confirmou a Igreja de lá, tornando-se seu primeiro bispo. Aí também recebeu a palma do martírio, em algum momento entre os anos 64 e 67, por decreto do imperador Nero.

                Logo após a Reforma Protestante (Século XVI), teólogos e historiadores protestantes passaram a afirmar que Pedro nunca esteve em Roma. O historiador luterano Adolf Harnack, porém, afirma que todas as teses protestantes são tendenciosas e só serviram para prejudicar o estudo sobre a vida de Pedro em Roma. Os historiadores atuais acreditam que a tradição católica esteja correta, até porque muitos escritos antigos corroboram a afirmação de que Pedro esteve realmente em Roma e lá foi feito bispo e mártir.
                
                 Algumas fontes antigas: Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Pápias de Hierápolis, Dioniso de Corinto, Orígenes de Alexandria, Ireneu de Lião, Eusébio de Cesaréia, Epifânio de Constância, Cipriano de Cartago, Agostinho de Hipona e tantos outros.

                Mesmo com tantas evidências e informações, a vida do apóstolo Pedro continua sendo objeto de investigações. Seu túmulo, porém, está localizado na basílica com seu nome, no Vaticano. Em 1950 a equipe chefiada pela arqueóloga italiana Marguerita Guarducci, encontrou  o que seria uma necrópole atribuída a Pedro, inclusive uma parede com grafitos onde se lê “Petrus Eni”, que em latim quer dizer “Pedro está aqui”. Em um nicho foram encontrados restos de ossos de um homem idoso, que se acredita, com muita probabilidade, serem do apóstolo Pedro.

                A cátedra (cadeira) de Roma, ocupada primeiramente por Pedro, foi, logo após seu  martírio, ocupada por Lino, depois por Anacleto, depois por Clemente e hoje por Jorge Mario Bergoglio, que se atribuiu o nome de “Francisco”.


                O título Papa, segundo alguns autores, significa a autoridade dada ao príncipe dos apóstolos. É a sigla da frase: “Petrus Apostolum Potestaten Accipiens”, que quer dizer “Aquele que recebe a autoridade do apóstolo Pedro”.

                São Pedro Apóstolo, rogai por nós e intercedei a nosso favor, para que nos tornemos cada vez mais pescadores de homens!

Autor: Anselmo José Ramos Neto.

Fonte: Coleção Patrística – Paulus  /  web revista Ciberteologia  /  web revista Ecclesian Meam  /  Apostolado Veritatis Splendor  / Wikipédia

domingo, 20 de julho de 2014

SE O SEU IRMÃO PECAR

                Olá!!! Recentemente fui levado a ler e refletir este trecho do Evangelho de Jesus Cristo escrito por Mateus, de modo que achei oportuno levar a público esta reflexão. Por falar em “levar a público”, alguém certa vez me disse que corremos um grande risco ao expor na internet aquilo que pensamos, pois não sabemos que olhos verão e que ouvidos escutarão o que estamos dizendo.
                Não discordo desta observação, entretanto há momentos em que nos encontramos tão cercados de pessoas com olhos e ouvidos completamente cerrados para o que estamos dizendo, que é preciso gritar mais alto para sermos ouvidos pelos que estão próximos e até mesmo alcançar os mais distantes.
                Outros ainda poderiam perguntar:

            - Você não acha, Anselmo, que muito alarde é desnecessário e perigoso? Por exemplo: se uma família tem um membro problemático, não é melhor tratar o problema internamente, ao invés de espalhar pra todo mundo que alguém na minha família é um problema?

                Não discordo, querido. Mas utilizando este mesmo exemplo é importante lembrar que: muitas vezes a família só se dá conta de que o membro é problemático quando a comunidade toda já sabe e já foi afetada pelo sujeito; outras vezes a família não tem estrutura para resolver o problema “internamente” e precisa de ajuda externa; e outras vezes ainda parte da família não tem intenção nenhuma de resolver o problema.

                Mas vamos ao texto bíblico:

                SE o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular. Se ele der ouvidos, você terá ganho o seu irmão. Se ele não der ouvidos, tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Caso ele não dê ouvidos, comunique à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão ou cobrador de impostos”. – Mt 18, 15-17 (Grifos meus) – Bíblia Sagrada – Edição Pastoral – Paulus - 1990

                Comecemos então pelo começo. Sim pelas primeiras palavras. “SE O SEU IRMÃO PECAR”.

                É importante perceber que Jesus inicia esta pequena admoestação partindo da possibilidade de alguém ter realmente pecado.

                Notemos que Jesus não começa dizendo:

                “Se você achar que seu irmão pecou...”
                “Se você ouvir dizer que seu irmão pecou...”
                “Se alguém te afirmar que teu irmão pecou...”
                “Se houver algum indício de que seu irmão pecou...”
                Etc..

                Só o início desta primeira frase já deveria servir para evitarmos uma infinidade de confusões, divisões e perseguições dentro da Igreja. É simples: se você não foi testemunha, nem tem provas cabíveis de que seu irmão realmente cometeu algum erro, então cale a boca! Não saia por aí espalhando o que você não pode provar, pois isso pode se voltar contra você. Não vá atrás de boatos, comentários, por mais críveis que pareçam e mesmo que venham de pessoas em que você confia. Primeiro passo: confirmar a veracidade do que você ouviu. Confirmou? É verdade? Então pode ir para o segundo passo:

                “VÁ [ao seu irmão] E MOSTRE O ERRO DELE, MAS EM PARTICULAR”.

                Ok! Seu irmão realmente pecou. Você tem as provas para mostrar, caso ele negue. Agora converse com ele. Se ele negar, mostre as provas. Se ele confirmar, peça para ouvir a versão dele. Talvez a coisa não seja tão grande quanto você ouviu, ou também pode ser o contrário; ser pior do que você pensou. Mas, caridosamente, ofereça ao seu irmão o direito de se explicar e até de se defender. Depois de ouvi-lo, ofereça-se para ajudá-lo.

                Agora deixa eu perguntar: É fácil fazer isso?

                - Não, Anselmo, realmente não é fácil.

                Claro que não é! E são cada vez mais raros os casos de alguém que agiu desta maneira com um irmão que cometeu algum erro na vida.
               
                E sabe por que?

           Porque é muito mais fácil pular logo para o quarto passo – COMUNICAR A IGREJA.

                Além de ser mais fácil, tem o gostinho da fofoca, o prazer de entregar alguém com a esperança de “limpar essa mancha” da nossa comunidade. Tem também a sensação de estar fazendo justiça: “Oh, eu sou sério, honesto e irrepreensível. Não posso deixar que alguém como ele (ou ela) fique impune!”

                E quem somos nós para punir alguém? Quem nos deu este direito?

                O cargo que ocupamos na Igreja? Mentira! Primeiro porque a Igreja é mãe e como mãe quer que os filhos se amem e continuem unidos. Não quer vê-los brigando nem medindo forças.  E segundo porque o cargo que ocupamos não nos coloca acima de ninguém, antes pelo contrário, nos coloca no mesmo nível ou abaixo, pois é uma posição de serviço e não de autoridade.
               
                Olhemos para cima, meus irmãos! Vejam, o nosso telhado também é de vidro.

                Eu poderia preencher algumas dezenas de linhas com conselhos de Jesus, como: não julgueis e não sereis julgados! Tirem a trave do seu olho antes de olhar o cisco no olho do outro! Mas acho que não é necessário.

                Numa das fontes em que me instruo sobre a Sagrada Escritura, encontrei um comentário interessante sobre este trecho de Mateus, que, a meu ver, corrobora com o que eu disse até agora.   

                “Ninguém de nós é perfeito, e não é porque seguimos a Jesus que estamos livres de cometer erros. O procedimento conforme a justiça de Deus procura evitar a arbitrariedade, levando em conta que todo mundo tem direito à boa fama. Primeiro não se deve espalhar o erro do irmão, mas corrigi-lo a sós. Ele pode não aceitar o que você está falando; direito dele. Arranje então testemunhas. Se ele continuar irredutível, então, E SÓ ENTÃO, comunique à comunidade”. – IVO STORNIOLO (Tradutor e autor das notas de roda pé da Bíblia Edição Pastoral da Paulus)

                O Evangelho é claro! Não é que nós devemos fechar os olhos, pôr panos quentes, ou até mesmo ignorar o erro do nosso próximo, principalmente dos que nos são mais próximos e daqueles cujo erro pode levar à ruína de muitos. Mas somos cristãos, e portanto, devemos agir como o próprio Cristo agiria, ou seja, com caridade e acolhimento.

                Santo Agostinho, um dos mais importantes Padres da Igreja, um dos responsáveis por aquilo que hoje chamamos "doutrina", escreveu o seguinte: “No imprescindível, a unidade, na dúvida, a liberdade, em tudo, a caridade”.

                E esta máxima tem tudo a ver com o jeito Cristão de ser; deve ser a atitude daqueles que seguem o Cristo que dizia: “Teus pecados estão perdoados, vai e não tornes a pecar”.

                Mas só terão atitudes verdadeiramente cristãs, aqueles que forem cristãos verdadeiros.

                Pax Domini! 

Autor: Anselmo José Ramos Neto

quarta-feira, 9 de julho de 2014

      MESSE GRANDE... POUCOS OPERÁRIOS

            Em Mt 9, 37 encontramos a seguinte “informação” de Jesus:

            “A messe é grande, mas poucos são os operários”.

            Esta simples frase serve como base para longas e substanciais homilias e palestras vocacionais dentro da Igreja Católica, por parte de alguns ministros leigos. É parafraseando Jesus que imploramos a participação de mais pessoas nas atividades pastorais, queixando-nos tanto da insuficiência de pessoal diante da grande missão de evangelizar, quanto da sobrecarga que oprime alguns ombros.

            Mas, vamos e viemos, será que é isso mesmo que queremos? Será que quando falamos àquele povão estamos mesmo querendo que todos eles arregacem imediatamente as mangas e venham nos ajudar? Será que “rejubilaremos de alegria” por alguns que se coloquem inteiramente à disposição da nossa pastoral? (Vou comprometer mais) Será que vamos ficar satisfeitos e agradecidos se ali no meio daquela multidão que nos ouve existir alguém capaz e disposto a nos substituir no nosso “cargo” imediatamente? Será que vamos ficar “confortáveis” se erguer o braço e se habilitar ao trabalho alguém com mais conhecimento e experiência do que nós?

            - É claro que sim, Anselmo!

            É CLARO QUE NÃO!!!!

            Olha só o que acontece:

            Muitos de nós atribuem a ineficiência ou a ineficácia do trabalho pastoral ao pequeno número de trabalhadores envolvidos, o que, como mencionei acima, sobrecarrega alguns que não conseguem fazer bem, nem uma coisa e nem outra. Mas isso é só uma desculpa, porque a ineficiência ou ineficácia da caminhada pastoral, essa messe infrutífera que presenciamos, se deve quase totalmente à nossa própria irresponsabilidade, enquanto agentes de pastoral.
           
            Ao invés de “irresponsabilidade”, no parágrafo acima, eu iria usar “incompetência”. Mas resolvi mudar porque não nos considero incompetentes, mas sim irresponsáveis. Vendo alguns trabalhos é fácil identificar não só a competência, mas também a criatividade, a dedicação, etc.. Mas nos tornamos irresponsáveis quando nos deixamos influenciar por aquilo que o Papa Francisco chama de “mundanismo espiritual”.

            Se alguém ainda não leu a Evangelii Gaudium, aí vai um trechinho desta que é a primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco:

            “A outra maneira [de alimentar o mundanismo espiritual] é o neopelagianismo autorreferencial e prometeuco de quem, no fundo, só confia nas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado. É uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um ELITISMO NARCISISTA E AUTORITÁRIO, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. (...) nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente (...) Não é possível imaginar que destas formas desvirtuadas de cristianismo, possa brotar um autêntico dinamismo evangelizador.” (Evangelii Gaudium, 94) (Grifos meus)

            Quando grito como acima “É CLARO QUE NÃO” é porque realmente não queremos “qualquer um” (por mais capacitado que seja). Queremos escolher, queremos indicar... somos seletivos demais... avaliamos demais... não temos a visão cristã de ver o que o outro ainda pode ser, temos a visão do mundo que só vê o que o outro é (ou aparenta ser).

            Fico imaginando se Jesus tivesse confiado a nós a tarefa de escolher seus apóstolos... sim, os 12. Sabe quantos deles escolheríamos?

            Nenhum!

            Ou melhor, talvez escolhêssemos Simão (não Pedro, o outro), Tadeu e Tiago (o que não era irmão de João). E sabe por que escolheríamos esses três? Porque eram parentes de Jesus – primos.   Talvez João e André também fossem escolhidos, porque eram discípulos de João Batista, que também era primo de Jesus. Se bem que João era muito novinho, e alguns de nós ainda não confiam muito na responsabilidade e comprometimento dos jovens.

            - Por que não os outros, Anselmo?

            Veja bem: Simão Pedro era mesmo uma pedra. Ranzinza, semi analfabeto, assim como a maioria do grupo, temperamental, falava “na lata”... o tipo de pessoas de quem queremos distância nas pastorais. Já pensou alguém dizendo o que pensa, sem papas na língua, indo contra aquilo que eu penso? Mateus era um cara legal, mas era publicano (cobrador de impostos), odiado pelo povo (principalmente o povo da igreja)... Eeeeu, ficar de amizade com gente assim? Tô fora! O mesmo se aplicava ao Judas Iscariotes, que fazia parte do grupo dos zelotes. Os zelotes eram aquela porção do povo judeu que ‘tava’ de saco cheio da opressão romana e partia pra briga, (não covardemente e de máscara, igual os Black-sei-lá-o-que) mas corajosa e bravamente. O Simão, primo de Jesus, também era desse grupo, por isso eu disse que só “talvez” escolhêssemos os três irmãos. É que, ‘cê’ sabe, escolher os irmãos e não escolher ele... mas ele é muito “arruaceiro”... melhor deixar a família de lado.

            Por isso, com certeza, não escolheríamos nenhum deles.

            Por outro lado, creio que Nicodemos e José de Arimatéia fossem escolhidos, porque eram gente da igreja, e ainda gostavam de Jesus. Quem sabe até um parente de Caifás, para agradar o sumo sacerdote.

            - Anselmo, agora ‘tu’ chegou ao cúmulo da tua ranzisice. A coisa não é tão feia assim.

            Importante, então, mencionar que tudo o que está escrito aqui não é fruto de conjecturas ou ideias de uma mente criativa e oposicionista. Tudo o que coloquei aqui é menção a coisas reais, situações vivenciadas ou presenciadas por mim, inclusive. E se as estou escrevendo é porque quero ser verdadeiramente CATÓLICO. Não menosprezo nem ridicularizo a Igreja de Cristo, à qual pertenço, e por isso mesmo sinto-me cada vez mais chamado a me posicionar sobre contra testemunhos e erros de conduta.

            Somos seletivos demais, SIM! Analisamos e classificamos (pré julgamos) os demais, SIM! Sentimo-nos superiores aos outros, SIM! Criamos elites e panelas onde possamos exercer nosso autoritarismo, SIM! – Sim, faço minhas as palavras do Papa.

            A coisa não é tão feia assim, você diz? A coisa é mais ou menos assim:

     
    

            “Importante lembrar que para o seu apostolado, Jesus não chamou os melhores, do ponto de vista da economia, da sociedade ou mesmo os mais santos; Jesus chama a todos, sem fazer qualquer tipo de distinção entre as pessoas. Assim, nos mostra que na atuação pastoral, devemos nos preocupar não simplesmente em fazer o trabalho, mas sim em envolver todas as pessoas, para que a atuação pastoral seja comunitária e revele este importante valor do Evangelho.” (www.liturgiadiaria.cnbb.org.br – reflexão sobre Lc 5, 1-11)

            - Ah, mas nem todos estão preparados!

            Preparados para que? Para fazer o trabalho, ou para fazer o trabalho como eu quero, como eu acho que tem que ser? E, a propósito, qual de nós estava preparado quando começou? Não começamos nós também devagar, com pouco conhecimento, com nenhuma experiência? A única coisa que tínhamos era a vontade.

            Por isso acho que cabe aqui a célebre frase de Albert Einstein:

            "Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende da nossa vontade e perseverança."

            Quando nos apropriamos do direito e do poder de escolher, chamar e capacitar por nós mesmos, podemos de incorrer no Pecado Original, ou seja, podemos cair, assim como Eva, na armadilha do inimigo, que continua querendo nos fazer acreditar que somos quase deuses.

            A Ele a honra, a glória e o poder, para sempre!

            A Ele, não a nós!

Autor: Anselmo José Ramos Neto