domingo, 20 de julho de 2014

SE O SEU IRMÃO PECAR

                Olá!!! Recentemente fui levado a ler e refletir este trecho do Evangelho de Jesus Cristo escrito por Mateus, de modo que achei oportuno levar a público esta reflexão. Por falar em “levar a público”, alguém certa vez me disse que corremos um grande risco ao expor na internet aquilo que pensamos, pois não sabemos que olhos verão e que ouvidos escutarão o que estamos dizendo.
                Não discordo desta observação, entretanto há momentos em que nos encontramos tão cercados de pessoas com olhos e ouvidos completamente cerrados para o que estamos dizendo, que é preciso gritar mais alto para sermos ouvidos pelos que estão próximos e até mesmo alcançar os mais distantes.
                Outros ainda poderiam perguntar:

            - Você não acha, Anselmo, que muito alarde é desnecessário e perigoso? Por exemplo: se uma família tem um membro problemático, não é melhor tratar o problema internamente, ao invés de espalhar pra todo mundo que alguém na minha família é um problema?

                Não discordo, querido. Mas utilizando este mesmo exemplo é importante lembrar que: muitas vezes a família só se dá conta de que o membro é problemático quando a comunidade toda já sabe e já foi afetada pelo sujeito; outras vezes a família não tem estrutura para resolver o problema “internamente” e precisa de ajuda externa; e outras vezes ainda parte da família não tem intenção nenhuma de resolver o problema.

                Mas vamos ao texto bíblico:

                SE o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular. Se ele der ouvidos, você terá ganho o seu irmão. Se ele não der ouvidos, tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Caso ele não dê ouvidos, comunique à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão ou cobrador de impostos”. – Mt 18, 15-17 (Grifos meus) – Bíblia Sagrada – Edição Pastoral – Paulus - 1990

                Comecemos então pelo começo. Sim pelas primeiras palavras. “SE O SEU IRMÃO PECAR”.

                É importante perceber que Jesus inicia esta pequena admoestação partindo da possibilidade de alguém ter realmente pecado.

                Notemos que Jesus não começa dizendo:

                “Se você achar que seu irmão pecou...”
                “Se você ouvir dizer que seu irmão pecou...”
                “Se alguém te afirmar que teu irmão pecou...”
                “Se houver algum indício de que seu irmão pecou...”
                Etc..

                Só o início desta primeira frase já deveria servir para evitarmos uma infinidade de confusões, divisões e perseguições dentro da Igreja. É simples: se você não foi testemunha, nem tem provas cabíveis de que seu irmão realmente cometeu algum erro, então cale a boca! Não saia por aí espalhando o que você não pode provar, pois isso pode se voltar contra você. Não vá atrás de boatos, comentários, por mais críveis que pareçam e mesmo que venham de pessoas em que você confia. Primeiro passo: confirmar a veracidade do que você ouviu. Confirmou? É verdade? Então pode ir para o segundo passo:

                “VÁ [ao seu irmão] E MOSTRE O ERRO DELE, MAS EM PARTICULAR”.

                Ok! Seu irmão realmente pecou. Você tem as provas para mostrar, caso ele negue. Agora converse com ele. Se ele negar, mostre as provas. Se ele confirmar, peça para ouvir a versão dele. Talvez a coisa não seja tão grande quanto você ouviu, ou também pode ser o contrário; ser pior do que você pensou. Mas, caridosamente, ofereça ao seu irmão o direito de se explicar e até de se defender. Depois de ouvi-lo, ofereça-se para ajudá-lo.

                Agora deixa eu perguntar: É fácil fazer isso?

                - Não, Anselmo, realmente não é fácil.

                Claro que não é! E são cada vez mais raros os casos de alguém que agiu desta maneira com um irmão que cometeu algum erro na vida.
               
                E sabe por que?

           Porque é muito mais fácil pular logo para o quarto passo – COMUNICAR A IGREJA.

                Além de ser mais fácil, tem o gostinho da fofoca, o prazer de entregar alguém com a esperança de “limpar essa mancha” da nossa comunidade. Tem também a sensação de estar fazendo justiça: “Oh, eu sou sério, honesto e irrepreensível. Não posso deixar que alguém como ele (ou ela) fique impune!”

                E quem somos nós para punir alguém? Quem nos deu este direito?

                O cargo que ocupamos na Igreja? Mentira! Primeiro porque a Igreja é mãe e como mãe quer que os filhos se amem e continuem unidos. Não quer vê-los brigando nem medindo forças.  E segundo porque o cargo que ocupamos não nos coloca acima de ninguém, antes pelo contrário, nos coloca no mesmo nível ou abaixo, pois é uma posição de serviço e não de autoridade.
               
                Olhemos para cima, meus irmãos! Vejam, o nosso telhado também é de vidro.

                Eu poderia preencher algumas dezenas de linhas com conselhos de Jesus, como: não julgueis e não sereis julgados! Tirem a trave do seu olho antes de olhar o cisco no olho do outro! Mas acho que não é necessário.

                Numa das fontes em que me instruo sobre a Sagrada Escritura, encontrei um comentário interessante sobre este trecho de Mateus, que, a meu ver, corrobora com o que eu disse até agora.   

                “Ninguém de nós é perfeito, e não é porque seguimos a Jesus que estamos livres de cometer erros. O procedimento conforme a justiça de Deus procura evitar a arbitrariedade, levando em conta que todo mundo tem direito à boa fama. Primeiro não se deve espalhar o erro do irmão, mas corrigi-lo a sós. Ele pode não aceitar o que você está falando; direito dele. Arranje então testemunhas. Se ele continuar irredutível, então, E SÓ ENTÃO, comunique à comunidade”. – IVO STORNIOLO (Tradutor e autor das notas de roda pé da Bíblia Edição Pastoral da Paulus)

                O Evangelho é claro! Não é que nós devemos fechar os olhos, pôr panos quentes, ou até mesmo ignorar o erro do nosso próximo, principalmente dos que nos são mais próximos e daqueles cujo erro pode levar à ruína de muitos. Mas somos cristãos, e portanto, devemos agir como o próprio Cristo agiria, ou seja, com caridade e acolhimento.

                Santo Agostinho, um dos mais importantes Padres da Igreja, um dos responsáveis por aquilo que hoje chamamos "doutrina", escreveu o seguinte: “No imprescindível, a unidade, na dúvida, a liberdade, em tudo, a caridade”.

                E esta máxima tem tudo a ver com o jeito Cristão de ser; deve ser a atitude daqueles que seguem o Cristo que dizia: “Teus pecados estão perdoados, vai e não tornes a pecar”.

                Mas só terão atitudes verdadeiramente cristãs, aqueles que forem cristãos verdadeiros.

                Pax Domini! 

Autor: Anselmo José Ramos Neto

2 comentários:

  1. Perfeito Anselmo, são poucas as pessoas puras e que admitem que também pecam. Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra, único que pode condenar é nosso Senhor Jesus, e como a Misericórdia dele é infinita devemos sempre perseverar e continuar na caminhada com muita oração e fé para não cometermos os mesmos pecados e assim chegar onde queremos, ao lado do Pai Eterno.

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    1. Belas palavras! Oração e fé: os ingredientes para continuar sempre.

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