MESSE GRANDE... POUCOS OPERÁRIOS
Em Mt 9, 37 encontramos a seguinte
“informação” de Jesus:
“A
messe é grande, mas poucos são os operários”.
Esta simples frase serve como base
para longas e substanciais homilias e palestras vocacionais dentro da Igreja
Católica, por parte de alguns ministros leigos. É parafraseando Jesus que
imploramos a participação de mais pessoas nas atividades pastorais,
queixando-nos tanto da insuficiência de pessoal diante da grande missão de
evangelizar, quanto da sobrecarga que oprime alguns ombros.
Mas, vamos e viemos, será que é isso
mesmo que queremos? Será que quando falamos àquele povão estamos mesmo querendo
que todos eles arregacem imediatamente as mangas e venham nos ajudar? Será que
“rejubilaremos de alegria” por alguns que se coloquem inteiramente à disposição
da nossa pastoral? (Vou comprometer mais) Será que vamos ficar satisfeitos e
agradecidos se ali no meio daquela multidão que nos ouve existir alguém capaz e
disposto a nos substituir no nosso “cargo” imediatamente? Será que vamos ficar
“confortáveis” se erguer o braço e se habilitar ao trabalho alguém com mais
conhecimento e experiência do que nós?
- É claro que sim, Anselmo!
É CLARO QUE NÃO!!!!
Olha só o que acontece:
Muitos de nós atribuem a
ineficiência ou a ineficácia do trabalho pastoral ao pequeno número de
trabalhadores envolvidos, o que, como mencionei acima, sobrecarrega alguns que
não conseguem fazer bem, nem uma coisa e nem outra. Mas isso é só uma desculpa,
porque a ineficiência ou ineficácia da caminhada pastoral, essa messe
infrutífera que presenciamos, se deve quase totalmente à nossa própria
irresponsabilidade, enquanto agentes de pastoral.
Ao invés de “irresponsabilidade”, no
parágrafo acima, eu iria usar “incompetência”. Mas resolvi mudar porque não nos
considero incompetentes, mas sim irresponsáveis. Vendo alguns trabalhos é fácil
identificar não só a competência, mas também a criatividade, a dedicação, etc..
Mas nos tornamos irresponsáveis quando nos deixamos influenciar por aquilo que
o Papa Francisco chama de “mundanismo espiritual”.
Se alguém ainda não leu a Evangelii Gaudium, aí vai um trechinho
desta que é a primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco:
“A
outra maneira [de alimentar o mundanismo espiritual] é o neopelagianismo autorreferencial e prometeuco de quem, no fundo,
só confia nas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir
determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico
próprio do passado. É uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá
lugar a um ELITISMO NARCISISTA E
AUTORITÁRIO, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os
demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a
controlar. (...) nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente
(...) Não é possível imaginar que destas formas desvirtuadas de cristianismo,
possa brotar um autêntico dinamismo evangelizador.” (Evangelii Gaudium, 94)
(Grifos meus)
Quando grito como acima “É CLARO QUE
NÃO” é porque realmente não queremos “qualquer um” (por mais capacitado que
seja). Queremos escolher, queremos indicar... somos seletivos demais...
avaliamos demais... não temos a visão cristã de ver o que o outro ainda pode
ser, temos a visão do mundo que só vê o que o outro é (ou aparenta ser).
Fico imaginando se Jesus tivesse
confiado a nós a tarefa de escolher seus apóstolos... sim, os 12. Sabe quantos
deles escolheríamos?
Nenhum!
Ou melhor, talvez escolhêssemos
Simão (não Pedro, o outro), Tadeu e Tiago (o que não era irmão de João). E sabe
por que escolheríamos esses três? Porque eram parentes de Jesus – primos. Talvez João e André também fossem
escolhidos, porque eram discípulos de João Batista, que também era primo de
Jesus. Se bem que João era muito novinho, e alguns de nós ainda não confiam
muito na responsabilidade e comprometimento dos jovens.
- Por que não os outros, Anselmo?
Veja bem: Simão Pedro era mesmo uma
pedra. Ranzinza, semi analfabeto, assim como a maioria do grupo, temperamental,
falava “na lata”... o tipo de pessoas de quem queremos distância nas pastorais.
Já pensou alguém dizendo o que pensa, sem papas na língua, indo contra aquilo
que eu penso? Mateus era um cara legal, mas era publicano (cobrador de
impostos), odiado pelo povo (principalmente o povo da igreja)... Eeeeu, ficar
de amizade com gente assim? Tô fora! O mesmo se aplicava ao Judas Iscariotes,
que fazia parte do grupo dos zelotes. Os zelotes eram aquela porção do povo
judeu que ‘tava’ de saco cheio da opressão romana e partia pra briga, (não covardemente
e de máscara, igual os Black-sei-lá-o-que) mas corajosa e bravamente. O Simão,
primo de Jesus, também era desse grupo, por isso eu disse que só “talvez”
escolhêssemos os três irmãos. É que, ‘cê’ sabe, escolher os irmãos e não
escolher ele... mas ele é muito “arruaceiro”... melhor deixar a família de lado.
Por isso, com certeza, não
escolheríamos nenhum deles.
Por outro lado, creio que Nicodemos
e José de Arimatéia fossem escolhidos, porque eram gente da igreja, e ainda
gostavam de Jesus. Quem sabe até um parente de Caifás, para agradar o sumo
sacerdote.
- Anselmo, agora ‘tu’ chegou ao
cúmulo da tua ranzisice. A coisa não é tão feia assim.
Importante, então, mencionar que
tudo o que está escrito aqui não é fruto de conjecturas ou ideias de uma mente
criativa e oposicionista. Tudo o que coloquei aqui é menção a coisas reais,
situações vivenciadas ou presenciadas por mim, inclusive. E se as estou
escrevendo é porque quero ser verdadeiramente CATÓLICO. Não menosprezo nem
ridicularizo a Igreja de Cristo, à qual pertenço, e por isso mesmo sinto-me
cada vez mais chamado a me posicionar sobre contra testemunhos e erros de
conduta.
Somos seletivos demais, SIM!
Analisamos e classificamos (pré julgamos) os demais, SIM! Sentimo-nos
superiores aos outros, SIM! Criamos elites e panelas onde possamos exercer
nosso autoritarismo, SIM! – Sim, faço minhas as palavras do Papa.
A coisa não é tão feia assim, você
diz? A coisa é mais ou menos assim:
“Importante lembrar que para o seu apostolado,
Jesus não chamou os melhores, do ponto de vista da economia, da sociedade ou
mesmo os mais santos; Jesus chama a todos, sem fazer qualquer tipo de distinção
entre as pessoas. Assim, nos mostra que na atuação pastoral, devemos nos
preocupar não simplesmente em fazer o trabalho, mas sim em envolver todas as
pessoas, para que a atuação pastoral seja comunitária e revele este importante
valor do Evangelho.” (www.liturgiadiaria.cnbb.org.br
– reflexão sobre Lc 5, 1-11)
- Ah, mas nem todos estão
preparados!
Preparados para que? Para fazer o
trabalho, ou para fazer o trabalho como eu quero, como eu acho que tem que ser?
E, a propósito, qual de nós estava preparado quando começou? Não começamos nós
também devagar, com pouco conhecimento, com nenhuma experiência? A única coisa
que tínhamos era a vontade.
Por isso acho que cabe aqui a
célebre frase de Albert Einstein:
"Deus
não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só
depende da nossa vontade e perseverança."
Quando nos apropriamos do direito e
do poder de escolher, chamar e capacitar por nós mesmos, podemos de incorrer no
Pecado Original, ou seja, podemos cair, assim como Eva, na armadilha do inimigo,
que continua querendo nos fazer acreditar que somos quase deuses.
A Ele a honra, a glória e o poder,
para sempre!
A Ele, não a nós!
Autor: Anselmo José Ramos Neto
Autor: Anselmo José Ramos Neto
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