quarta-feira, 9 de julho de 2014

      MESSE GRANDE... POUCOS OPERÁRIOS

            Em Mt 9, 37 encontramos a seguinte “informação” de Jesus:

            “A messe é grande, mas poucos são os operários”.

            Esta simples frase serve como base para longas e substanciais homilias e palestras vocacionais dentro da Igreja Católica, por parte de alguns ministros leigos. É parafraseando Jesus que imploramos a participação de mais pessoas nas atividades pastorais, queixando-nos tanto da insuficiência de pessoal diante da grande missão de evangelizar, quanto da sobrecarga que oprime alguns ombros.

            Mas, vamos e viemos, será que é isso mesmo que queremos? Será que quando falamos àquele povão estamos mesmo querendo que todos eles arregacem imediatamente as mangas e venham nos ajudar? Será que “rejubilaremos de alegria” por alguns que se coloquem inteiramente à disposição da nossa pastoral? (Vou comprometer mais) Será que vamos ficar satisfeitos e agradecidos se ali no meio daquela multidão que nos ouve existir alguém capaz e disposto a nos substituir no nosso “cargo” imediatamente? Será que vamos ficar “confortáveis” se erguer o braço e se habilitar ao trabalho alguém com mais conhecimento e experiência do que nós?

            - É claro que sim, Anselmo!

            É CLARO QUE NÃO!!!!

            Olha só o que acontece:

            Muitos de nós atribuem a ineficiência ou a ineficácia do trabalho pastoral ao pequeno número de trabalhadores envolvidos, o que, como mencionei acima, sobrecarrega alguns que não conseguem fazer bem, nem uma coisa e nem outra. Mas isso é só uma desculpa, porque a ineficiência ou ineficácia da caminhada pastoral, essa messe infrutífera que presenciamos, se deve quase totalmente à nossa própria irresponsabilidade, enquanto agentes de pastoral.
           
            Ao invés de “irresponsabilidade”, no parágrafo acima, eu iria usar “incompetência”. Mas resolvi mudar porque não nos considero incompetentes, mas sim irresponsáveis. Vendo alguns trabalhos é fácil identificar não só a competência, mas também a criatividade, a dedicação, etc.. Mas nos tornamos irresponsáveis quando nos deixamos influenciar por aquilo que o Papa Francisco chama de “mundanismo espiritual”.

            Se alguém ainda não leu a Evangelii Gaudium, aí vai um trechinho desta que é a primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco:

            “A outra maneira [de alimentar o mundanismo espiritual] é o neopelagianismo autorreferencial e prometeuco de quem, no fundo, só confia nas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado. É uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um ELITISMO NARCISISTA E AUTORITÁRIO, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. (...) nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente (...) Não é possível imaginar que destas formas desvirtuadas de cristianismo, possa brotar um autêntico dinamismo evangelizador.” (Evangelii Gaudium, 94) (Grifos meus)

            Quando grito como acima “É CLARO QUE NÃO” é porque realmente não queremos “qualquer um” (por mais capacitado que seja). Queremos escolher, queremos indicar... somos seletivos demais... avaliamos demais... não temos a visão cristã de ver o que o outro ainda pode ser, temos a visão do mundo que só vê o que o outro é (ou aparenta ser).

            Fico imaginando se Jesus tivesse confiado a nós a tarefa de escolher seus apóstolos... sim, os 12. Sabe quantos deles escolheríamos?

            Nenhum!

            Ou melhor, talvez escolhêssemos Simão (não Pedro, o outro), Tadeu e Tiago (o que não era irmão de João). E sabe por que escolheríamos esses três? Porque eram parentes de Jesus – primos.   Talvez João e André também fossem escolhidos, porque eram discípulos de João Batista, que também era primo de Jesus. Se bem que João era muito novinho, e alguns de nós ainda não confiam muito na responsabilidade e comprometimento dos jovens.

            - Por que não os outros, Anselmo?

            Veja bem: Simão Pedro era mesmo uma pedra. Ranzinza, semi analfabeto, assim como a maioria do grupo, temperamental, falava “na lata”... o tipo de pessoas de quem queremos distância nas pastorais. Já pensou alguém dizendo o que pensa, sem papas na língua, indo contra aquilo que eu penso? Mateus era um cara legal, mas era publicano (cobrador de impostos), odiado pelo povo (principalmente o povo da igreja)... Eeeeu, ficar de amizade com gente assim? Tô fora! O mesmo se aplicava ao Judas Iscariotes, que fazia parte do grupo dos zelotes. Os zelotes eram aquela porção do povo judeu que ‘tava’ de saco cheio da opressão romana e partia pra briga, (não covardemente e de máscara, igual os Black-sei-lá-o-que) mas corajosa e bravamente. O Simão, primo de Jesus, também era desse grupo, por isso eu disse que só “talvez” escolhêssemos os três irmãos. É que, ‘cê’ sabe, escolher os irmãos e não escolher ele... mas ele é muito “arruaceiro”... melhor deixar a família de lado.

            Por isso, com certeza, não escolheríamos nenhum deles.

            Por outro lado, creio que Nicodemos e José de Arimatéia fossem escolhidos, porque eram gente da igreja, e ainda gostavam de Jesus. Quem sabe até um parente de Caifás, para agradar o sumo sacerdote.

            - Anselmo, agora ‘tu’ chegou ao cúmulo da tua ranzisice. A coisa não é tão feia assim.

            Importante, então, mencionar que tudo o que está escrito aqui não é fruto de conjecturas ou ideias de uma mente criativa e oposicionista. Tudo o que coloquei aqui é menção a coisas reais, situações vivenciadas ou presenciadas por mim, inclusive. E se as estou escrevendo é porque quero ser verdadeiramente CATÓLICO. Não menosprezo nem ridicularizo a Igreja de Cristo, à qual pertenço, e por isso mesmo sinto-me cada vez mais chamado a me posicionar sobre contra testemunhos e erros de conduta.

            Somos seletivos demais, SIM! Analisamos e classificamos (pré julgamos) os demais, SIM! Sentimo-nos superiores aos outros, SIM! Criamos elites e panelas onde possamos exercer nosso autoritarismo, SIM! – Sim, faço minhas as palavras do Papa.

            A coisa não é tão feia assim, você diz? A coisa é mais ou menos assim:

     
    

            “Importante lembrar que para o seu apostolado, Jesus não chamou os melhores, do ponto de vista da economia, da sociedade ou mesmo os mais santos; Jesus chama a todos, sem fazer qualquer tipo de distinção entre as pessoas. Assim, nos mostra que na atuação pastoral, devemos nos preocupar não simplesmente em fazer o trabalho, mas sim em envolver todas as pessoas, para que a atuação pastoral seja comunitária e revele este importante valor do Evangelho.” (www.liturgiadiaria.cnbb.org.br – reflexão sobre Lc 5, 1-11)

            - Ah, mas nem todos estão preparados!

            Preparados para que? Para fazer o trabalho, ou para fazer o trabalho como eu quero, como eu acho que tem que ser? E, a propósito, qual de nós estava preparado quando começou? Não começamos nós também devagar, com pouco conhecimento, com nenhuma experiência? A única coisa que tínhamos era a vontade.

            Por isso acho que cabe aqui a célebre frase de Albert Einstein:

            "Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende da nossa vontade e perseverança."

            Quando nos apropriamos do direito e do poder de escolher, chamar e capacitar por nós mesmos, podemos de incorrer no Pecado Original, ou seja, podemos cair, assim como Eva, na armadilha do inimigo, que continua querendo nos fazer acreditar que somos quase deuses.

            A Ele a honra, a glória e o poder, para sempre!

            A Ele, não a nós!

Autor: Anselmo José Ramos Neto

Nenhum comentário:

Postar um comentário