O surgimento das ideologias anticristãs
Hoje, mais do que nunca, é preciso compreender que existem ideologias interessadas na destruição da Igreja. Um exemplo claro de uma intenção ideológica é a própria historiografia recente da Igreja. É muito fácil notar que existe um preconceito contra a Igreja e ele foi confeccionado ideologicamente por um grupo de intelectuais, filósofos iluministas franceses do século XVIII e XIX.
A Revolução Francesa (1789) não foi um fenômeno espontâneo, pelo contrário, foi preparada tanto política quanto ideologicamente. Para compreendê-la é preciso estudar o que a antecedeu e os seus bastidores. Comprovadamente, existe uma vasta documentação dando conta que pseudointelectuais, falsos filósofos foram "comprados" por um grupo de banqueiros, a então chamada 'burguesia', para criar um movimento ideológico que tornasse possível a derrubada da monarquia, pois não havia outro modo de eles chegarem ao poder.
Os falsos filósofos criaram uma rede de mentiras, notadamente contra a Igreja Católica, os jesuítas, o rei, a nobreza etc, fabricando um clima de insatisfação e revolta, utilizando a literatura como meio de propagação das mentiras. Como foi dito, esse movimento foi criado artificialmente mediante a injeção de dinheiro, contudo, alguns pensadores acreditaram sinceramente no movimento falso de revolta, como foi o caso de Jean Jacques Rousseau, o qual não se tem notícia de que tenha recebido qualquer quantia da dita "burguesia", mas que, no entanto, foi um dos melhores ideólogos desse movimento.
O início do movimento, portanto, foi dado por filósofos medíocres, mas a continuidade dele foi feita por filósofos sérios que passaram a trabalhar para a derrocada da monarquia e da Igreja. Dentro da ideologia Iluminista, portanto, está embutida toda uma maneira de se contar a história que não é aquela acontecida, mas feita de modo que instaure a revolução, que mude o status quo.
Naquela época, a imprensa acabara de ser inaugurada, os jornais eram raros. Mas, uma técnica bem sucedida, inventada por Christoph Friedrich Nicolai, cuidou de propagar com sucesso a ideologia iluminista: as feiras de livros. Com o crescente interesse da população pelos livros, Nicolai passou a organizar as feiras, porém, selecionava os livros que seriam postos à venda, p. ex., se o livro era contra a Igreja, contra a monarquia, se ele pregava o materialismo, o ateísmo era escolhido, caso contrário, não. Isso fomentou o movimento revolucionário.
Historicamente, sabe-se que o rei da França convocou os Estados Gerais, o parlamento, para resolver um problema referente aos impostos, pois a Coroa estava indo à falência. Uma vez reunidos, surpreendentemente, os representantes dos Estados franceses passaram a redigir uma Constituição, planejando a derrocada da monarquia.
Deste modo, por causa das técnicas aplicadas: investimento em escritores para que produzissem material contrário à Igreja e à monarquia, e a difusão desses livros nas feiras idealizadas por Friedrich Nicolai, contribuiram de maneira decisiva para o surgimento desse fenômeno artifical, em vigor até hoje, que tem por objetivo denegrir a Igreja Católica.
Outro ponto a ser frisado é que em qualquer livro de História existem divisões, classificações das épocas. Essas divisões foram estabelecidas justamente durante o Iluminismo, portanto, imbuídas de ideologia. Cada título atribuído aos períodos da História traz nele mesmo uma valência ideológica: Idade Antiga e Idade Moderna. Entre uma e outra, um período de mais ou menos mil anos no qual o Cristianismo desempenhou um papel fundamental na história do Ocidente.
Com a queda do Império Romano do Ocidente, no século V, após o que a barbárie tomou conta, a Igreja tornou-se a referência cultural na Europa até a queda do Império Romano do Oriente. Ideológicamente era preciso "matar" esse período. Por isso recebeu o nome de "Idade Média", em que havia a razão na Antiguidade, com seus grandes filósofos, seguido por um período de trevas, na qual a razão foi substituída pela superstição, pelas trevas, pelo cristianismo. A partir do século XV, quando ressurge o paganismo, em substituição gradual ao cristianismo, o nome que se dá é "Renascimento", seguido pelo século das Luzes, no qual a Deusa Razão triunfa e surge o Iluminismo.
Ora, esse tipo de historiografia pode ser tudo, menos algo isento, equilibrado. É pura ideologia. Régine Pernoud, grande historiadora medievalista, fala com toda clareza o quanto a Idade Média foi uma época de extraordinário desenvolvimento em inúmeros aspectos. Notadamente na situação da mulher na sociedade que durante toda a Idade Antiga nada mais era uma "coisa", propriedade do pater familias, do pai de família, do marido, o qual tinha o poder de matá-la, caso não estivesse satisfeito.
Ora, o cristianismo mudou radicalmente essa visão. Nele, a mulher adquiriu dignidade semelhante a de seu esposo, aliás, estudos sérios comprovam que o cristianismo tornou-se popular justamente porque as mulheres perceberam que a conversão dos esposos os impedia de matá-las, por isso elas se empenhavam para que eles aderissem ao cristianismo.
Na Idade Antiga jamais se ouviu falar de uma mulher reinando, já na Idade Média ela era coroada junto com o Rei. Muitos feudos eram comandados por abades e muitos por abadessas. Foi o cristianismo que, olhando para a dignidade da mulher, colocou a Virgem Santíssima como Rainha do Céu e da Terra, fornecendo um instrumental espiritual para que se compreendesse a dignidade da mulher.
Como Renascimento a mulher é novamente coisificada perdendo a sua dignidade e importância, justamente por causa da volta do paganismo, da visão antiga, do pré-cristianismo. A esposa do Rei não é mais coroada como rainha, em geral, as mulheres se tornam objetos de desejo sexual, inclusive escravas, pois foi justamente no Renascimento que a prática escravagista retornou. Na Idade Média não havia escravos, mas tão-somente o servo da gleba, que não era propriedade do senhor feudal, mas mantinha com ele uma aliança: impostos em troca de proteção militar.
Portanto, o Renascimento significou um apagar-se das luzes e não um retorno das luzes. Apagaram-se as luzes dos valores cristão que plasmaram toda a cultura da Idade Média. É preciso, deste modo, entender que toda a historiografia contrária à Igreja Católica foi confeccionada quase que totalmente por várias ideologias cuja finalidade era e é derrubar a Igreja, detendo a influência dos valores cristãos na sociedade, a fim de dar trela livre ao paganismo que reina na cultura atual.
Precisamos conhecer uma história da Igreja baseada na verdade dos fatos, dentro de uma acurácia, uma precisão dos fatos históricos relatados enquanto tal, e depois, uma interpretação desses fatos à luz da fé. Mesmo quando a verdade histórica for dolorosa, pecados de papas, infidelidades, traições, heresias, lutas internas, tudo isso deve ser conhecido, mas sempre tendo em vista a Igreja de Cristo que, justamente por ser "a Igreja de Cristo", desde o início é perseguida até mesmo internamente.
A carne, o mundo e o demônio são os três inimigos do homens e também da Igreja. Existe a força da concupiscência nos membros da Igreja, existe a mundanidade dentro da Igreja e também existe a ação demoníaca. Mas não só isso, existe a ação do Espírito Santo, a presença de Graça, a certeza de que Deus conduz a sua Igreja. Nosso Senhor Jesus Cristo previa isso na Última Ceia: "odiaram a mim, odiarão também a vós", (conf. Jo 15,18).
Conhecer a História da Igreja é conhecer o amor de Deus na história da humanidade, mas também o ódio que marcou e ainda marca a Esposa de Cristo, chagada, que segue o caminho de seu divino fundador: a Sua Paixão e Crucifixão. A esperança do cristão é de que haverá um dia a ressurreição e se verá a Esposa descer do alto, quando então todos serão um só com Cristo. Será a escatologia, o fim da história da humanidade e o fim da História da Igreja.
Fonte: Pe Paulo Ricardo de Azevedo Junior