domingo, 26 de julho de 2015

MARCOS, FRANCISCO E A IGREJA EM SAÍDA



O primeiro versículo do primeiro capítulo do Evangelho segundo Marcos diz o seguinte:

“Começo da Boa Nova de Jesus, o Messias, o Filho de Deus”.

Entretanto o termo “começo” empregado pelo evangelista não diz respeito apenas ao início do seu escrito, mas a todo ele. É que o livro de Marcos – todo ele – se caracteriza como um simples começo.

Mas que começo? E começo de que?

Antes, notemos que Jesus sai de Nazaré, na Galiléia e vai até o Jordão, onde é batizado por João Batista. (Mc 1,9).

Mas é de volta à Galiléia (Mc 1,14) que Jesus inicia sua atividade, que vai culminar com a morte na cruz. E no último capítulo do livro, já ressuscitado, o recado dado às mulheres diz que, para os discípulos verem Jesus vivo eles devem ir para...

Galiléia!

“Agora vocês devem dizer aos discípulos dele e a Pedro que ele vai para a Galiléia, na frente de vocês. Lá vocês o verão, como ele mesmo disse”.(Mc 16,7).

Podemos dizer então que a Galiléia é o local do início e do fim da obra de Jesus?

Não! Não podemos.

Porque o que Marcos narrou nos dezesseis capítulos do seu livro é apenas...

...o começo!

 “Aquilo que Jesus realizou é apenas o início da atividade que seus discípulos deverão continuar em todos os tempos e lugares, a fim de trazer o Reino de Deus para dentro da humanidade e da história”. (BALANCIN, Euclides M - Como Ler o Evangelho de Marcos, Paulus, 1991)

Voltar ao começo. Voltar às origens. Esse é o segredo para uma evangelização verdadeira. Não é sob os holofotes e em meio às multidões das capitais - Samaria ou Jerusalém - que Jesus inicia esta obra, mas em meio à gente humilde das periferias. Até porque a Galiléia ficava no extremo norte do território de Israel, e Cafarnaum, onde, segundo Marcos, Jesus realizou sua primeira pregação e seu primeiro milagre, ficava às margens do Mar da Galiléia.

O começo da Boa Nova aconteceu em meio aos afastados, onde estavam também os excluídos e os esquecidos.

Algo muito parecido o Papa Francisco tem nos proposto: ir às periferias.

“Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo”. (Papa Francisco, EG 23)

Esta saída missionária tão querida pelo Papa e tão necessária para a Igreja, nada mais é do que um retorno ao começo da Boa Notícia. É abastecer-se e ao mesmo tempo continuar de onde Jesus parou, e da mesma forma que ele fez.

E Ele nada fez em condição divina, mas vazio de divindade e revestido de humanidade, da nossa humanidade. O Verbo se fez carne para que a carne o conhecesse e conhecendo-o pudesse praticar as suas obras.

Então voltar ao começo é deixar de pregar um Cristo apenas divino e mágico, e apresentar às pessoas o Cristo homem e passível das nossas dores e sujeito às nossas limitações. E foi assim, humano como nós, que ele “tomou a iniciativa sem medo, foi ao encontro, procurou os afastados e chegou às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. E não deixou de viver até o último momento [na carne] o desejo inexaurível de oferecer misericórdia”. (EG, 24)

“O Verbo se fez carne, mas tem-nos sido mais cômodo transformar a carne em verbo” - (Dom Leomar Brustolin, em discurso no 9º Muticom, julho/2015) – porque é mais fácil falar da Boa Notícia do que sermos nós mesmos a Boa Notícia que os outros precisam receber.

Se queremos participar dessa Igreja em saída missionária, precisamos voltar ao começo, lá onde a Boa Notícia não é apenas anúncio, mas prática.

“É vendo e entendendo a prática de Jesus que se aprende e se transmite o Evangelho. E o Evangelho é o projeto de Deus identificado na atividade de Jesus e seus discípulos. Mais do que transmitir verdades para serem ouvidas, a evangelização se realiza quando as pessoas vem o que está acontecendo através da prática daqueles que confessam Jesus ressuscitado presente na história”. (BALANCIN)

Assim, ficamos sabendo que o grande ensinamento de Jesus é a sua prática e que sua palavra é sempre nova porque é sempre acompanhada por sua ação.


Assim, na ação, todos saberão que somos verdadeiramente seus discípulos, e não apenas adeptos de uma ideia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário