MARCOS, FRANCISCO E A IGREJA
EM SAÍDA
O
primeiro versículo do primeiro capítulo do Evangelho segundo Marcos diz o
seguinte:
“Começo da Boa Nova de
Jesus, o Messias, o Filho de Deus”.
Entretanto
o termo “começo” empregado pelo
evangelista não diz respeito apenas ao início do seu escrito, mas a todo ele. É
que o livro de Marcos – todo ele – se caracteriza como um simples começo.
Mas
que começo? E começo de que?
Antes,
notemos que Jesus sai de Nazaré, na Galiléia e vai até o Jordão, onde é
batizado por João Batista. (Mc 1,9).
Mas
é de volta à Galiléia (Mc 1,14) que Jesus inicia sua atividade, que vai
culminar com a morte na cruz. E no último capítulo do livro, já ressuscitado, o
recado dado às mulheres diz que, para os discípulos verem Jesus vivo eles devem
ir para...
Galiléia!
“Agora vocês devem dizer aos
discípulos dele e a Pedro que ele vai para a Galiléia, na frente de vocês. Lá
vocês o verão, como ele mesmo disse”.(Mc 16,7).
Podemos
dizer então que a Galiléia é o local do início e do fim da obra de Jesus?
Não!
Não podemos.
Porque
o que Marcos narrou nos dezesseis capítulos do seu livro é apenas...
...o
começo!
“Aquilo que Jesus realizou é apenas o início
da atividade que seus discípulos deverão continuar em todos os tempos e
lugares, a fim de trazer o Reino de Deus para dentro da humanidade e da
história”. (BALANCIN, Euclides M - Como
Ler o Evangelho de Marcos, Paulus, 1991)
Voltar
ao começo. Voltar às origens. Esse é o segredo para uma evangelização
verdadeira. Não é sob os holofotes e em meio às multidões das capitais - Samaria
ou Jerusalém - que Jesus inicia esta obra, mas em meio à gente humilde das
periferias. Até porque a Galiléia ficava no extremo norte do território de
Israel, e Cafarnaum, onde, segundo Marcos, Jesus realizou sua primeira pregação
e seu primeiro milagre, ficava às margens do Mar da Galiléia.
O
começo da Boa Nova aconteceu em meio aos afastados, onde estavam também os excluídos
e os esquecidos.
Algo
muito parecido o Papa Francisco tem nos proposto: ir às periferias.
“Fiel ao modelo do Mestre, é
vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os
lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo”. (Papa Francisco, EG 23)
Esta
saída missionária tão querida pelo Papa e tão necessária para a Igreja, nada
mais é do que um retorno ao começo da Boa Notícia. É abastecer-se e ao mesmo
tempo continuar de onde Jesus parou, e da mesma forma que ele fez.
E
Ele nada fez em condição divina, mas vazio de divindade e revestido de
humanidade, da nossa humanidade. O Verbo se fez carne para que a carne o
conhecesse e conhecendo-o pudesse praticar as suas obras.
Então
voltar ao começo é deixar de pregar um Cristo apenas divino e mágico, e
apresentar às pessoas o Cristo homem e passível das nossas dores e sujeito às
nossas limitações. E foi assim, humano como nós, que ele “tomou
a iniciativa sem medo, foi ao encontro, procurou os afastados e chegou às
encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. E não deixou de viver
até o último momento [na carne] o
desejo inexaurível de oferecer misericórdia”. (EG, 24)
“O Verbo se fez carne, mas
tem-nos sido mais cômodo transformar a carne em verbo” - (Dom Leomar Brustolin, em
discurso no 9º Muticom, julho/2015) – porque é mais fácil falar da Boa Notícia do que sermos
nós mesmos a Boa Notícia que os outros precisam receber.
Se
queremos participar dessa Igreja em saída missionária, precisamos voltar ao
começo, lá onde a Boa Notícia não é apenas anúncio, mas prática.
“É vendo e entendendo a
prática de Jesus que se aprende e se transmite o Evangelho. E o Evangelho é o
projeto de Deus identificado na atividade de Jesus e seus discípulos. Mais do
que transmitir verdades para serem ouvidas, a evangelização se realiza quando
as pessoas vem o que está acontecendo através da prática daqueles que confessam
Jesus ressuscitado presente na história”. (BALANCIN)
Assim,
ficamos sabendo que o grande ensinamento de Jesus é a sua prática e que sua
palavra é sempre nova porque é sempre acompanhada por sua ação.
Assim,
na ação, todos saberão que somos verdadeiramente seus discípulos, e não apenas
adeptos de uma ideia.
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