Durante
uma catequese com adolescentes, um padre (Pe Valdecir) pediu aos jovens que
definissem “o santo”. Várias opiniões foram partilhadas, mas uma em particular
chamou muito a atenção do padre. Um dos adolescentes respondeu:
“Santo
é um cara de cabeça torta, mãos postas e cara de fome”.
Imediatamente
acorreram à memória do padre inúmeras imagens conhecidas de santos, e ele pode
confirmar que a resposta do jovem fazia sentido, partindo da possibilidade de
que os raros contatos daquele rapaz com a figura de um santo foram as
visualizações das imagens que os pais ou avós tinham em casa.
Acaso
não tem sido essa também a nossa realidade?
O
que temos ensinado às novas gerações a respeito dessas figuras extraordinárias
que chamamos de “santos”?
Temos
passeado pelas vidas deles, seus testemunhos e exemplos, ou os continuamos
apresentando como figuras mágicas que protegem isso ou aquilo e cujo respeito
se encerra na veneração e cuidado de suas imagens de gesso?
Podemos
não perceber, mas até mesmo esse zelo com as imagens acabam passando uma ideia errada
do que nós mesmos conhecemos a respeito dos santos. Sim, pois o excesso de
cuidado com uma simples imagem, tipo: “cuidado pra não quebrar”, “cuidado pra
não arranhar”, etc., transmitem uma ideia de fragilidade a respeito daquele
personagem. Há até quem segure uma imagem como se fosse um bebezinho.
Claro
que a nossa veneração aos santos passa também pelo cuidado com as imagens que
chamamos “sacras”. Mas de nada adianta cobrar o zelo e o cuidado e não
apresentar os motivos pelos quais os veneramos, respeitamos e amamos até mesmo
em suas representações plásticas.
Quem
é o santo, então?
Talvez
a resposta que o Pe Valdecir esperava ouvir daqueles adolescentes, seja essa,
que eu gostaria de partilhar também com vocês.
Vamos
entender os santos em três pontos:
1) Os santos são antes de
qualquer coisa homens e mulheres como você e eu. Seus nascimentos se deram
exatamente como os nossos; assim como nós foram amamentados, precisaram
aprender a falar e a andar... O Francisco de Assis, o Antonio, a Clara, também
sujaram suas fraldas, e não era nada diferente das nossas. Ainda na infância
tiveram seus brinquedos, foram educados e escolarizados (cada um de acordo com
o contexto em que viveu, e essa ambiência também serviu para moldar suas
personalidades, assim como a nós hoje). Viveram o período da adolescência, com
as mesmas crises e transformações. E para alguns, a juventude também foi uma
época de muitas festas, baladas e “pegação”.
Alguns na juventude optaram pela vida monástica ou sacerdotal, outros pelo
matrimônio.
E
foi nessa situação, vivendo a dimensão humana, que eles optaram por um estilo
de vida diferente, e aqui entramos no segundo ponto:
2) Ao abraçar a mensagem cristã
e tornar a Palavra de Deus sua regra de vida, esses homens e mulheres se
tornaram diferentes, e eram até visto por muitos como indivíduos separados dos
costumes da maioria das pessoas à sua volta. (Etimologicamente, a palavra santo
quer dizer [também] “separado”(do grego, hagios)
Então este jeito novo de viver, embora com características bem próprias a cada
um, tinha algo em comum: a imitação de Cristo. Por isso o desapego material (aos
bens terrenos e até ao próprio corpo, também matéria); o apego incondicional
aos mais desprotegidos e necessitados; o desejo inesgotável de fazer o bem a
quem quer que necessitasse; a perfeita sintonia com Deus e sua vontade e o amor
pela Igreja. E com uma força e energia que não era sua, alguns foram a lugares
onde ninguém se atrevia a ir, sem medo e sem repugnâncias, levar a Palavra de
Deus, não só na pregação, mas principalmente na prática do amor.
Tornaria-se
por demais alongado este artigo se eu fosse citar exemplos de tudo isso que
resumi no segundo ponto. Mas é graças a esta diferença, em virtude do seu
testemunho, que esses homens e mulheres, jovens ou idosos, são merecidamente
intitulados pela Igreja como “Santos”.
3) Porque a Igreja não
“fabrica” santos; ela assim os declara, após uma criteriosa investigação acerca
da vida e testemunho. É o povo de Deus, os membros da Igreja que apresenta a
ela os motivos pelos quais este ou aquele merece ser “elevado à honra dos
altares”. O testemunho de vida advoga em favor do “candidato”, juntamente com a
aclamação popular. O santo não o é porque a Igreja assim o declarou, mas porque
buscou isso em vida, gratuita e despretensiosamente, despertando no coração do
seu povo a gratidão e o desejo de tê-lo como exemplo. A Igreja, repito, nas
fabrica santos, embora seja ela um canal de aproximação ao Evangelho e sua
proposta de santidade.
Portanto,
por mais que sejamos convidados e autorizados a venerar esses cristãos que nos
precederam, inclusive em suas representações artísticas (imagens), não é a isso
que deve se resumir a nossa devoção a eles.
Mais
do que importante, é necessário lembrar que, antes de tudo isso, eles foram
homens e mulheres como nós, com o diferencial: o diferencial da radicalidade na
fé e na caridade. E se assim considerarmos, muito mais do que acender velas,
levar flores, fazer novena, carregá-los nos andores, precisamos honrar as suas
memórias imitando aquele que eles próprios buscaram imitar: Jesus Cristo. E se
eles foram capazes, nós também o seremos, se nos deixarmos guiar pelo Espírito
Santo e cultivarmos o amor ao próximo e à Igreja, assim como eles, tão
dedicadamente o fizeram.
Algumas
imagens de santos até podem ter cabeça torta, mãos postas e cara de fome. Mas
os santos sempre tiveram o olhar voltado ao irmão, a vida de oração e traziam
na sua face o rosto misericordioso de Deus.
Que
os santos e santas de Deus intercedam a Deus por nós em nossas fraquezas.
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