HOJE TEM ESPETÁCULO? TEM, SIM, SENHOR!!
Estamos vivendo um momento muito interessante em nossas
paróquias e comunidades. Estamos vivendo a fase dos “eventos”.
Mas o que é um evento?
“A origem da palavra ‘eventos’ vem do termo EVENTUAL, o
mesmo que CASUAL, um acontecimento que foge à rotina e sempre é programado para
reunir um grupo de pessoas” (CAMPOS, WYSE & ARAÚJO, 2002)
Então, sempre que algo foge à rotina, pode ser considerado
um evento. Entretanto o que tem acontecido é que algumas de nossas pastorais
estão reduzindo sua atuação a isso, à realização de “eventos”: Encontro Disso,
Noite Daquilo, Missa de..., Retiro Daquele Outro, Jogos, Shows, Hallel, Kairós,
EvangelizaShow, etc..
- Endoidou! Agora vai dizer que essas coisas não devem fazer
parte da caminhada pastoral!
Evidente que devem! Mas só se acontecerem EVENTUALMENTE.
Quando se torna rotina acaba perdendo o sabor, não deixa mais aquele “gostinho
de quero mais”. Aquele objetivo de “reunir um grupo de pessoas” não á mais
alcançado, porque as pessoas cansam e não conseguem mais conciliar sua vida
pessoal e outras atividades na comunidade, com os eventos.
Quando um setor ou uma pastoral resume seu trabalho (que é
evangelizar) à realização de eventos – quase que mensais – está deixando de
lado outro aspecto muito importante da obra da evangelização: o ir mais além!
- Ô, chato, mas quando se promove um evento não se vai mais
além?
Até se vai. Se vai mais além das forças – porque a maior
parte do trabalho acaba nas mãos de uma única pessoa; se vai além da paciência
e da tolerância com as pessoas – porque tem que sair tudo do jeito que eu
planejei e aquele(a) não está colaborando; se vai além do diálogo intra
comunidade – porque as lideranças não estão ajudando, o CAEP não liberou verba,
o padre não deu o apoio que eu queria; etc..
O “ir mais além” realmente importante não ocorre. Alcançar
outras pessoas, outras vidas, outros lares, águas mais profundas, enfrentar
lobos... essas coisas do Evangelho.
E é justamente por não termos êxito nesse “ir mais além”,
que nos tornamos ditadores e quase que obrigamos todos os membros do
setor/pastoral a se fazerem presentes no nosso evento. Não importa se ele/ela
tem outro compromisso, se não tem condução ou condição, se está com problemas
em casa... NÃO IMPORTA!!! TEM QUE IR!!! É COMPROMISSO DE CRISTÃO!!!
Nós nos contentamos com o esplendor do nosso evento, com a
animação da banda, a empolgação (bem momentânea) dos participantes, fotos,
vídeos, exposição nas redes sociais... e isso nos basta.
‘O evento foi ótimo!’ – dizem depois
Mas a evangelização foi feita? O anúncio chegou? Teve algum
sinal de conversão?
‘Ah, sim, vai ter muito mais gente envolvida no próximo!’ –
iludem-se
Envolvidas? Em que? Em preencher crachá, encher e pendurar
balões, espalhar cadeiras, Cuidar do cachorro quente e do refrigerante?
Quer um exemplo de algo que realmente envolve? Missões
Populares! Sair à rua numa comunidade que você não conhece; bater palmas no
portão de um desconhecido que pode nem te receber cordialmente; não importa se
tem sol ou vento (com chuva até entendo que fica mais difícil) ir além dos
nossos muros e das nossas grades; sair do conforto de nossa casa, nossa sala de
reuniões, nosso salão paroquial; sem banda de música; sem luzes; e até sem
internet. Entregar a quem te abrir a porta um “A Paz Esteja Contigo!”. Sem
discurso, sem pressão, apenas anunciando e mostrando nosso Jesus que não se
ostenta, não impõe e ama.
Isso é ir mais além, a meu ver.
Queridos, não deixemos de lado os nossos eventos, não é essa
a intenção deste artigo. Mas que nossos eventos sejam realmente EVENTUAIS. - “Façam uma coisa, mas não negligenciem a
outra”(Mt 23, 23) - Que eles sejam o ponto de partida ou de chegada de um
período de caminhada, um ano, por exemplo.
E entre um e outro, coloquemo-nos a serviço nos gestos
menores e muito mais significativos e produtivos. – “Não basta dizer que são filhos de Abraão, antes façam coisas que
mostrem que vocês o são” (Mt 3, 8-9)
Mostre Jesus, revele o amor de Deus a tantos quanto você
possa, mas sem banner ou alto falante... o seu rosto é o rosto onde Jesus quer
ser visto; sua voz é a voz pela qual Jesus quer falar; seu olhar é o olhar com
que Jesus que ver os que Ele ama. São os seus passos que vão levar Jesus aonde
Ele quer ir; São seus braços que vão dar o abraço que Jesus quer dar; É através
de suas mãos que a bênção de Deus chegará a quem precisa. E você não precisa de
palco nem microfone pra isso.
E se isso não servir para que Deus seja conhecido e querido,
não é um espetáculo que o vai.